eu toco, escrevo, edito e faço tudo isso absurdamente mal pra caralho.
O que eu quero pra esse ano é paz comigo mesmo. Desenvolvimento. Crescer. E isso não vai ser possível com ela junto.
Não é pra ser uma sensação natural, o filho ter medo da mãe. Mas eu tenho. Medo de parecer o errado da história, medo de desagradar e algo se tornar um grande motivo pra uma briga sendo que não é.
Mas como eu disse, esse não vai ser um ano que vou tolerar isso.
“Tudo é culpa do TDAH”. Sim.
Não tô dizendo que eu sou um relaxado 24/7, que eu sou relapso. Mas as vezes eu me perco nas minhas coisas e não é proposital.
Eu tenho quase 28, e não aguento mais ver situações bobas se desenvolverem em novas brigas, discussões e traumas. Eu tenho medo de lidar com ela
Agora ela não fala comigo, não vi ela na academia nos últimos dias e nem sei quanto tempo ela vai querer ficar sem falar comigo. Mas eu não sou o problema. Eu tô enxergando uma situação problemática. Eu tô vendo o que precisa mudar. Eu tô vendo o que eu fiz e o que ela fez.
E eu não aguento mais essa sensação sufocante de que eu não saio debaixo da asa da mãe. Esse é pra ser um ano diferente, e isso precisa acabar. Eu agradeço muito que tenho amigos que me escutam e me dão apoio, que poderiam falar que eu tô errado mas falaram que no começo é difícil mas depois melhora
Que mãe que ajuda o filho e joga isso na cara depois? De novo, ela tem recursos, me ajuda financeiramente (e nem por isso eu deixo de ir atrás de fonte de renda, eu amo meu trabalho), e ela ajuda porque quer e não porque eu pedi.
Ela até distorceu acontecimentos ou usou o fato de que eu fumo maconha pra tentar atingir. Não é como se eu quisesse esconder que eu fumo. Então foda-se. E ainda se preocupar com isso? Eu podia ser um verdadeiro lixo de ser humano, mas a preocupação é se eu uso maconha.
Obviamente ela não quis escutar, ironizou toda a minha fala. Sempre eu que não colaboro, que não ajudo ela em nada. Como que eu vou ajudar alguém que tem tudo na mão, que tem recurso? Mas um único vacilo é motivo de briga.
Então eu falei verdades, que eu não conseguia crescer com ela fazendo tudo pra mim e querendo ajudar em tudo. Que eu tava sempre ali pra escutar ela, mas eu era sempre o alvo do lamento e das frustrações dela quando ela tava chateada com outras coisas.
Tentei evitar que a gente brigasse, falei que não ia discutir por algo pequeno e busquei relevar. Porque eu esse ano eu escolhi isso pra mim: não me estressar mais com a minha mãe.
No dia seguinte ao buscar os cachorros ela falou para eu subir, e encheu minha cabeça de merda.
Sexta feira eu falei verdades para minha mãe. Ela brigou comigo no dia anterior por uma parada simples. Ela não conseguiu esperar alguns minutos la fora enquanto eu descia com as coisas do cachorros, e quando eu cheguei eu dei de cara com nada.
Fui até a casa dela e ela me mandou embora.
E mesmo assim eu tento amar ela é ser um filho grato, apesar de uma das minhas maiores perguntas na minha vida toda foi “o que é ser grato, afinal?”
E mesmo assim eu prefiro passar por estes infortúnios incessantes do que passar um minuto ao lado do meu pai.
Que em 2024 eu finalmente seja adulto..
E eu tenho medo de me tornar como ela. De ser alguém difícil de lidar. De ter frustrações não curadas. Eu sei que eu não fui uma criança/adolescente fácil. Mas parece que eu sou sempre o saco de pancada nos seus momentos de infelicidade. Parece que eu nunca vou crescer.
É como se ela me tivesse na mão dela. Me fazendo me sentir culpado e sendo vítima (de novo, mesmo comportamento que minha vó faz e ela rejeita). Dois minutos atrás ela se irritou porque um estojo que ela me emprestou seis meses atrás não tava com ela, e eu disse que não tava lá em casa (não sei tb).
Reclamando que uma camiseta minha saiu da máquina e ficou com cheiro de suor, ou de quanta roupa tô levando. “Ah mas é mãe, tá ficando velha”, mas eu também tô ficando velho. E quando que vou ter paz? Ela tem diversos defeitos e eu não jogo na cara dela. Porque não quero outro briga.
Preciso ser cauteloso com bateria do celular, manda mensagens algumas vezes pra ver se ela está bem. Fazer o essencial pra que eu me esquive de um esporro.
Nesse momento ela passou algumas camisetas minhas, coisa que eu poderia ter feito, mas quando faço, ela reclama que eu não pedi pra ela fazer.
Eu não vejo a hora de entrar no ônibus hoje a tarde e sumir por duas semanas. Mas me entristece pensar que mesmo distante, minha mente estará agitada pois a qualquer momento ela pode brigar comigo por algo minúsculo, e acabar jogando meu dia lá embaixo.
É difícil amar a minha mãe. Eu não consigo ter vontade de chamá-la para subir e tomar um café, porque sei que ela vai apontar defeitos no minha casa. Parece que nunca está suficiente. E pasme: ela tem o mesmo discurso quando se trata da minha vó, mãe dela, que tratou ela como lixo a vida toda.
Ao mesmo tempo, é muito complicado estar ao lado dela. Eu tenho medo de falar qualquer coisa, de fazer qualquer coisa e tomar um esporro. Mais dois anos e estarei fazendo 30. Mas ela me vê com um garoto de 13, 14 anos.
Não é como se eu não tivesse uma família, mas eu não existo pra eles da mesma forma que eles não existem pra mim. É e eu e minha mãe. E só.
Eu sou muito grato a Lara por ter me dado de presente uma família que eu nunca tive. Pra mim, era perfeita do seu jeito. Sinto muita falta deles, dos almoços, das noites jogando baralho, de cafés fora de hora. Sinto falta de ter uma família as vezes.